quinta-feira, 21 de agosto de 2014


Sedução

 
Represento para ti a figura que desejo ser e busco em ti a imagem que me atrai. Tu fazes o mesmo.
A sedução é a arte de nos apresentarmos maravilhosos, superando todas as nossas limitações, imunes ao risco e anestesiados para o fracasso.
Jogamos as regras universais, tal como as penas do pavão ou o rugido do leão.
Na sedução, o desejo orienta, a razão ilumina e o coração bombeia.
Os sentidos se despertam, o corpo invade-se do poder das hormonas e eleva-se.
Todos os momentos são ávidos de prazer e vividos com emoção.
Conversamos nos olhando, nos conquistando, sorrindo, desejando esse beijo, querendo saborear o gosto salgado e suave dos nossos lábios.
Os teus gestos pedem o toque das mãos que te estendo.
As nossas vozes não falam, mas murmuram ao ouvido estes sons que se só decifram nesta gostosa alienação.
E o cheiro que emanas é a sedução máxima do corpo que quase escondes.
Nesta peça, não interessa transpor a magia, quebrar o encanto e a omissão também não é forçosamente uma mentira.
 

Transformação


 
Fechei a porta deixando tanto para trás, levei apenas o essencial, a minha vida.

Sinto-me agora diante o mar imenso, sem saber ao certo o que fazer. É bem mais fácil o processo destrutivo, tudo é rápido quando se quebram vínculos, traumas ou preconceitos.

Mais difícil é reerguer-nos, definir como juntar todos os pedaços dispersos, como levar em diante esta nova vida, de forma a concretizar tantos sonhos perdidos, reencontrar o amor próprio e dar valor a tudo o que foi já construído, abraçar quem nunca foi esquecido.

Sigo sozinho, pois preciso de conquistar só cada vitória, sei que a minha fraqueza me subjuga aos desejos dos outros. Neste exercício mental, a vida prossegue noutro ritmo, exige respostas, decisões às quais respondemos com emoção quando a razão falha, e vice versa.

E a contradição é a constante humana que nos leva a escolher, a optar. Ela impele-me para a necessidade de partilhar momentos da vida, a solidão cega-nos e seca as emoções e sentimentos. Tenho que aprender também, a gerir a forma como me relaciono, permitir-me de dominar os meus desejos, de impor as minhas regras.

Passo a passo, estou mais forte, mais tranquilo, contento-me com pequenos detalhes, certo que posso errar e falhar. Cresço assim a cada instante, perdoando-me de não ter tentado antes.

Porém, não esqueço os meus valores, sou fiel aos meus princípios e honro a minha palavra. Sei que em nada atrapalham a minha determinação de viver cada instante melhor. Procuro neste guião encontrar respostas dentro de mim. Não deixarei de escutar o coração.

Quero pensar que tenho o privilégio de viver este momento.

 

sábado, 9 de agosto de 2014


Recruto Musas,

 

Tenho Musas a quem sou fiel, mas assumo a minha poligamia literária, nesse mundo de palavras que nunca se esgotam.

Sei também que dedico a todas, cuidados diferentes, pois nenhuma é igual. Trato-as como as flores de quem recolho esse néctar que me ajuda a criar, a sentir a cadência e o ritmo que imprimo nas frases.

Recruto Musas porque quero regenerar, transformar, criar diferente. Preciso de Musas arrojadas, destemidas que ousem me ajudar nesta aventura pelo mundo delicioso da imaginação, do delírio poético.

Prometo me apaixonar nessa cumplicidade que liga o Poeta e a sua Musa, fator essencial à própria criação, razão que alimenta todo o ímpeto e necessidade de pegar na caneta e rabiscar todas essas deliciosas folhas brancas.

O Poeta, tal como o Pintor tem essa necessidade de preencher cada folha, imagina-a completa quando ela ainda está puramente virgem.

Toda a Musa precisa de saber tocar o instrumento com que quiser me seduzir. Eu seguirei a sua melodia e o seu canto ficará gravado nas minhas palavras. O seu nome será sempre recordado, a sua presença enaltecida.

Pagarei os vossos serviços com os textos que vos dedicarei, nos quais vos deixarei coradas de desejo, radiantes de confiança e libertas das correntes que vos amarram à vida normal e entediante.

Espero por vós no meu jardim junto ao lago, ao rio e ao mar onde gostam de se banhar.

 

sexta-feira, 8 de agosto de 2014


Arrependido

 

Nada corrói mais que o arrependimento, quando o sentimento de culpa se torna o balsamo dessa ânsia de vermos minimizado o nosso sofrimento. 

Porém quem sofre é sempre outra pessoa, dos erros que cometemos. Essa impotência de não poder reparar o que está feito, persegue-nos.
 
Basta respirar para falhar, mas tal não nos iliba nem justifica atos precipitados, ímpetos momentâneos. 

O silêncio torna-se a forma mais honesta de aceitar esse pesado fardo, pois a vitima não somos nós. 

O arrependimento transforma-se nesse imenso abismo quando juntamos a confiança eternamente desfeita. 

E o tempo não volta para trás, tomara nunca te ter conhecido, quisera que tudo não passasse desse pesadelo no qual despertarias feliz ao ver que tudo se mantem igual na tua vida.