quinta-feira, 31 de julho de 2014



Inquietude

 

Inquieta é a tempestade que se aproxima

Inquietas estão as pernas que não ousam dançar

Inquieto está o coração que ama quando está longe

Inquieto é o sono quando o amanhã se torna presente

Inquieta é a solidão de quem não quer estar só

Inquieto é o formigueiro do pensamento

Inquieta é a justa indignação

Inquietos estão os pais pelos filhos

Inquietos estão os lábios querendo o beijo

Inquieto é o medo de errar

Inquieta é a lágrima que não quer cair

Inquieta é a criança que acaba de nascer

Inquieta é luz frágil dessa vela

Inquieto estou eu quando não sinto



Não guardo memória de tudo o que não fiz,

nem sei mesmo no que me teria tornado,

abdiquei de as sentir, abstive-me de as viver.

 

Fui refém desse arrependimento,

fui infeliz em busca de outras vidas

não vividas, sem saber o que procurar.

 

Criei mundos imaginários, distintos do meu,

num movimento bipolar entre o ser

e o querer.

 

Perdi-me, deixei de entender como tinha

erguido as avenidas que guiavam as minhas

ações.

 

Incapaz de sair do labirinto, desfazer o nó

e desvendar o quebra cabeças, eu me

isolei, não soube comunicar.

 

Vivia um presente esperado, num misto de

desejo e angústia, de alegria e de fúria,

numa dor que sentia e não queria.

 

Não me amei, não permiti que me amassem,

não deixei que invadissem o meu mundo,

não sabia o que mostrar.

 

Sem futuro, algemado à vida, exigi de outros

o que eu não fazia e revoltei-me de mim mesmo.

Não quis morrer assim.

segunda-feira, 28 de julho de 2014


Prazer, Natália


 

A noite termina e tu apareces

com a tua seriedade que me cativa.

trazendo contigo a cobrança,

dos bons momentos.

 

O teu sorriso é contido,

pois carregas em ti,

o peso dessa responsabilidade.

 

Passas a noite na sombra,

na tua discreta elegância

que eu admiro em silêncio.

 

Passas por entre as mesas invisível,

pois a noite é das estrelas

e trazes o dissabor da realidade.

 

Creio que gostas desse poder,

que representas tão bem.

A tua presença é bem vinda

na minha mesa.

 

Maria

 

Maria era uma mulher como tantas outras. Sofria, não amava e não era amada. Perdera os seus sonhos com o passar dos anos. Sobrecarregada em trabalho e filhos esquecera dela mesmo.

Em silêncio mantinha rotinas, escondia desejos, vivia fetiches. Tinha vergonha, pensava ser a única e não partilhava segredos. Refugiava-se na sua dimensão, nesse espaço sentia-se melhor vivendo por outros, por vezes meras ficções, personagens de livros.

Passava na rua, cabeça para baixo e sempre em passos rápidos. Tinha medo de olhar e ficar fascinada com um mundo a que não chegava e nunca vivera. Tinha vontade dessa paixão que sabia existir, que lera e ouvira. Queria ser beijada, idolatrada, possuída como nunca ousara pedir.

E o desejo é como a dor de dente, não se cura somente com muita vontade. Tem que se pôr a mão, enfrentar, realizar. Maria ousou, provou e não desgostou. Sentiu-se mulher, amada e desejada.

Depois veio a culpa, o receio e a recusa de enfrentar novamente aquela vida. Não queria voltar para a sombra depois de ter visto a luz, de ter sentido o chão tremer por baixo dela. Maria não podia ser feliz, não era certamente o seu destino. Só, Maria se jogou sorrindo daquela ponte...

 

Quero encher todos os momentos vazios da minha vida

Preenche-los com histórias e memórias

Experimentar, ousar e arriscar

Crescer, conhecer e descrever toda esta magia

Quero ter coragem de me amar para poder te amar

Sentir, curtir e unir

Viver, querer e poder estar onde puder

E que desses lugares surjam paixões

Momentos arrebatadores e aventuras desmedidas

 Para que a morte não seja a tristeza de uma vida não vivida.

 

domingo, 27 de julho de 2014



Felicidade

 

Eu não quero viver feliz, até porque nem sei o que é a felicidade. Ser feliz é um estado que se esgota após a sua consumação, é efémero e volátil.

Gosto de sentir o tormento da vida, quando procuro realizar desejos e eles ficam definitivamente mais impregnados em mim.

Gosto de estar no reboliço da inquietação, quando medito sozinho e me redescubro nas minhas incoerências.

Gosto do sabor amargo da dor e da angustia que me derruba num canto, chorando para me manter vivo.

Sou feliz enquanto amo, mas não sei amar o tempo todo.

Sou feliz enquanto estou com amigos, mas gosto de estar comigo mesmo.

Sou feliz enquanto viajo, mas não saio do meu quarto.

E o meu sorriso nem sempre transporta felicidade, e o meu beijo nem sempre é alegria, e o meu abraço pode necessariamente ser um pedido de ajuda.

Não vivo em busca da felicidade, pois não aproveitaria, nem sequer me aperceberia e não quero sofrer essa ressaca.

Quero continuar tranquilamente a pensar que sou feliz em doces momentos, que sou feliz quando não chove, que sou feliz quando sei que estou feliz.

 

sábado, 26 de julho de 2014



Boa tarde,

Muito obrigado, o Blog atingiu hoje as 5000 visualizações. Sinto-me muito honrado. Nesta partilha, todos são uma força gigantesca para me ajudar a crescer enquanto escritor.

Este exercício deixou de ser exclusivamente o refúgio da minha angustia, para passar a ser uma fonte de enorme prazer.

Bem hajam,
Filipe

sexta-feira, 25 de julho de 2014

 

Desejos ocultos

 

De olhos vendados e as mãos amarradas, assim estava ele imóvel no centro da sala. A sua pele era a expressão desse êxtase que ele sentia na nuca, do sopro da cada palavra dela.

Ouvia os saltos caminhar em seu redor e imaginava as longas pernas se transportando em belas botas de couro. Em todo esse movimento, o seu espirito perdia-se nos pés que ele ansiava tocar e beijar.

Notando a sua desatenção, ela o repreendeu, batendo-lhe de leve com o seu chicote de amazona e ele gostou, pois gostava daquele toque na sua pele desperta. Ela sabia disso, via no rosto a felicidade.

Ele nu, ela vestida a rigor, com o seu arreio, por cima de body transparente e sensual, o mundo parecia ter acabado e só eles existiam, se entregavam cada um ao seu papel, com um enorme desejo.

Tudo era consensual, ambos gostavam de criar cenários novos e jogos que lhes permitissem usufruir de um prazer mais intenso que podiam prolongar por mais tempo. A imaginação levava-os a desfrutar de sensações que se traduziam em excitação, múltiplos orgasmos.

Ela subitamente o agarrou e ordenou-lhe que se ajoelhasse, lentamente ele foi descobrindo o cheiro dela, sentiu o arreio lhe tocando a face e adivinhou o toque da pele. Em seguida ela sentou-se na sua frente e colocou a sua bota sobre ele e ordenou-lhe que lhe tirasse a bota e lhe beijasse o pé.

Obedientemente, desatou a longa bota, acariciando a perna. Ela de cima sentia o seu desejo crescer, ele beijava um e outro pé lentamente, contemplando a sua perfeição. Como prémio tirou-lhe a venda e deixou-o observa-la sentada. Ele deitou a cabeça sobre a sua perna macia.

Sempre amarrado, ela levantou-se e mandou-o deitar no chão, com os seus pés pisou devagar o seu corpo, sentido que o excitava ela continuou sentindo o tesão no seu pé, enquanto tirava o arreio e o body. Nua, sentou-se sobre a sua cara, ele esperou que ela desse a ordem para começar a beijar, lamber e chupar até que ela gozasse bem gostosamente.

Depois, sentido mais desejo, sentou-se sobre o seu pau e deixou-se penetrar sem pedir licença. Ele agradeceu tanto merecimento e gratidão, sentiu aquela energia trespassar-lhe o corpo todo, estremeceu de prazer. Os dois continuaram por longo e prazeroso tempo, entre brincadeiras e jogos de poder. Ambos conquistavam nesses momentos de intimidade uma existência irreal que os mantinha felizes e realizados.


Vivo um tempo diferente, em que não sou quem era.

A ruptura deixou um vazio dentro de mim,

perdi referenciais de sofrimento,

E assim sinto-me no limbo da consciência que

me impede de pensar e ser quem sou.

Não me encontrei ainda dentro desta nova

fórmula, desta solução saída de uma proveta

experimental.

Deambulo sob o manto escuro da noite,

ofusca-me a luz forte do sol,

navego sem bussola,

Passo a passo reconstruo-me,

sigo desejos e sonhos,

desamarrado de tantos fantasmas.

Luto comigo, não quero parar uma

vez mais de viver, esperando a perfeição,

tento readaptar-me para aceitar

a simplicidade da vida.

 

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Prisão


 
Amarra-me, ameaça-me,
reprime-me, obriga-me,
mas não conseguirás calar-me.
 
De nada te servirão essas paredes
perante o meu silêncio.
 
Mutila-me, castiga-me,
subjuga-me, tortura-me,
mas nunca me apagarás.
 
Serás para sempre prisioneira
da tua própria memória.
 
Os meus gritos ficarão
cravados em ti, a minha dor te
pintará de vermelho e as
lágrimas que não verás,
te secarão.
 
 
 


quinta-feira, 17 de julho de 2014



Diferente


 

Hoje não estou, nem melhor,

nem pior do que ontem,

estou diferente.

 

Diferente, pois nunca acordo da mesma forma,

não mantenho a mesma rotina de manhã,

a minha roupa não é uniforme

que me clone dia após dia.

 

Diferente, porque não cruzo nem grito

com os mesmos carros,

não passo por cima dos mesmos buracos,

não atravessam as mesmas mulheres.

 

Diferente, também é o tempo que passa

enquanto espero a hora de ir para casa,

para ficar imobilizado com estou agora.

 

E se não fosse diferente, como poderia eu

sentir que os dias passam por mim?

E que hoje não foi ontem?

E que tudo é invariavelmente igual...

 

quarta-feira, 16 de julho de 2014




Todos desejamos afeto,

mas a forma como o procuramos

reflete-se no modo como o recebemos.

 

A intensidade com que damos

vê-se no brilho do olhar,

na franqueza do sorriso e

no calor do abraço.

 

E não há obrigado,

pois até o silêncio é mais poderoso

do que a palavra.

 

domingo, 13 de julho de 2014



O sol abriu,

a esperança renasceu,

a confiança cresceu.

Porém este dia não apareceu.

 

Esperei por ele, dia após dia

e dormi, cansado não vi passar

o teu voo e tu julgaste que

eu dormia sereno.

 

Mais um desencontro, de novo

vidas que não se cruzam

e este seria o nosso destino

 

Eu levarei a minha vida, tal como

tu te deixarás levar pela tua.

Nem te conheço, falo com o

Infinito.

 

 

Doce Amanda,

 
Guardiã deste templo sagrado,
Tu és uma diplomata, consegues com
charme, sorriso e encanto demonstrar
a razão pela qual te foi confiada
a chave deste paraíso.
 
O teu não, não é julgado e sim aceite
Como razão inquestionável da tua palavra.
 
O teu sim corresponde à felicidade
que nos guia para dentro deste éden
da luxuria e do prazer.
 
Continua a maravilhar este lugar
com a fonte da tua eterna juventude
 

Um dia a vida será uma eterna festa em que todos nos sentiremos embriagados, ausentes na dor e tudo será indissoluvelmente tranquilo e suave.

Nesse dia não estarei cá pois a realidade é feroz.

 

O poeta contemporâneo vive no mundo real, o que não implica que viva essa realidade.

A sua imaginação segue os desvios da abstração, segue a negação dos indecisos, segue a compaixão dos inseguros e a sinceridade dos atormentados.

O poeta é liberdade, é um grito que clama justiça, é o desespero de quem vê o sofrimento para além da racionalidade.

O poeta não é perfeito, não sente mais, mas os seus olhos estão despertos, os seus ouvidos escutam a dor indecifrável do sofrimento, pois ele mesmo a sente dentro dele.

O poeta entende a voz dos insubmissos e é a voz dos revoltados.

O poeta vive a loucura de quem não cala o que sente.

 

 

terça-feira, 1 de julho de 2014

 

Faz uns dias que não sofro, sinto tranquilidade

Porém, não sinto felicidade, estou vazio,

Embriagado neste bem estar de coisa nenhuma,

Percorro o tempo devagar, como quem disfruta de uma caminhada

Racionalizo essa lucidez efêmera e aguardo

Aguardo o que há de chegar

Aguardo a felicidade e a arrebatadora paixão com a mesma tranquilidade com que aguardo a dor da mais profunda tristeza

Conheço ambas, os seus ciclos, sei que passam por mim como ciclones, mas ainda não consegui nem prever, nem me proteger

Simplesmente, aguardo sem reflexos pelo meu destino