sexta-feira, 21 de maio de 2021

7 Dicas para a vida em Estaleiro

 

Imagem Google Earth do Campo de Kilosa da Yapi Merkezi (SGR Line Morogoro to Makutupora)


Já alguma vez pensaram em poder viver num estaleiro de obra?

Posso vos garantir que não é nada fácil, contudo esta é a realidade de muitos projetos por este mundo fora!

Nem sempre as obras ocorrem numa cidade, e dependendo dos países, das suas dimensões ou infraestruturas, poderemos estar de tal forma isolados que seremos instalados num acampamento.

Como estar preparado para o isolamento?
Como suportar longos períodos longe da família?
Como usufruir dos momentos de pausa?

A verdade é que muito raramente caímos de um dia para o outro num projeto com estas características, por isso a experiência adquirida é a nossa grande aliada. Assim como as nossas vivências ajudam a moldar a nossa conduta e carácter, elas irão nos guiar nos nossos desafios e proteger-nos do inesperado.

O trabalho é seguramente a parte mais fácil de resolver nesta complexa equação de pensamentos e emoções, afinal de contas é a razão da nossa presença. Os desafios profissionais são equivalentes a qualquer outra situação de obra. Estamos preparados e por isso nos foi depositada confiança para os assumir.

O Horário de trabalho nestes lugares é mais longo do que em outras atividades, geralmente trabalhamos 6 dias por semana, o que se torna um aspeto positivo. Apesar do cansaço, permite ocupar uma boa parte do tempo que passamos aqui.

Portanto é o fator pessoal que mais influência na nossa qualidade de vida e estas são 7 as minhas dicas, para que possam usufruir desta experiência da melhor maneira:

ü  Preparar a primeira temporada;

ü  Cumprimentar, sorrir e agradecer;

ü  Não perder o contacto com familiares e amigos;

ü  Passatempos e conhecimento;

ü  Uma vida saudável;

ü  A sesta;

ü  Sonhar com as férias.

 

Preparar a primeira temporada

As pessoas que têm o gosto de efetuar viagens de lazer e visitar novos lugares, sabem muito bem a importância de programar o seu roteiro. Para trabalhar, a situação não é distinta e podemos com maior ou menor facilidade preparar-nos para o que nos espera.

Hoje a internet fornece-nos muita informação escrita, mas fundamentalmente visual, para que possamos de certa forma reduzir o primeiro impacto, assim que chegamos ao nosso destino.

Os colegas, são também, uma fonte muito importante, pois transmitem-nos informações básicas sobre as rotinas de vivência no acampamento, sugestões para tempos livre, assim como as informações indispensáveis para chegada ao país. Lembro que fora da Europa devemos estar preparados para a necessidade de vistos de entrada. Até o bafo quente de África, à saída do avião, nos anuncia uma nova realidade.

Dependendo do período de estadia, poderemos assim estar preparados e não estar privados das coisas que nos trazem bem-estar, desde artigos de higiene pessoais, mais um livro, até à iguaria que nos transporta para as nossas boas memórias.

Assim recomendo, que façam uma lista com tudo o que vos vier à cabeça, e perguntem ao vosso colega ou à organização que vos contrata, o máximo de informação sobre o novo lugar onde irão passar a viver. Deste modo poderão organizar a vossa primeira bagagem.

 

Cumprimentar, sorrir e agradecer

Nas grandes cidades, ao contrário das pequenas vilas, as pessoas vivem centradas em si mesmas, isoladas, com pouca ou nenhuma interação com pessoas fora do seu círculo familiar ou social. O que sabemos dos vizinhos que cruzamos vezes sem conta?

Dependendo das culturas, a saudação pode ser um fator determinante para a realização de uma tarefa. Recordo, quando focado nos meus objetivos, não cumprimentei a minha interlocutora em Angola e esta não se moveu até que eu entendesse que tinha esquecido de dar os bons dias. O Brasil por onde vivi uns anos não é diferente. Aliás, quem não se indigna quando é abordado de forma rude?

Como em qualquer projeto internacional trabalhamos e comunicamos com outras nacionalidades, muito distintas da nossa. Esta é uma oportunidade de partilhamos experiências com os outros povos, com diferentes línguas, culturas, costumes e tradições, e de nos enriquecermos como seres humanos.

Assim um sorriso sincero e muita cortesia são portas abertas para uma melhor aceitação, aprovação e interação.

 

Não perder o contacto com familiares e amigos

Tal como eu, o meu Pai for emigrante por muitos anos. Nesses tempos comunicávamos essencialmente por cartas e postais, o telefone nem sempre era uma opção, e somando ao fato das viagens serem anuais, tudo contribuía para uma provável destruição de vínculos afetivos.

Hoje tudo é felizmente muito diferente e o progresso tecnológico contribui para suprir essa distância física que nos separa de um beijo ou de um abraço. Falamos por voz ou videochamada, a partir de qualquer lugar, partilhamos mensagens e imagens por um simples toque. Tudo é tão simples.

Quer os amigos, quer a família são o nosso porto de abrigo e nestas situações extremas, podem ser o nosso suporte emocional neste debate entre a solidão e a saudade.

Mas tal como as plantas, os relacionamentos devem ser cuidadosamente tratados, e a distância só se vence com constância e perseverança. Já diz o ditado que “Longe da vista, longe do coração!”

Mantenha por isso contato frequente com os seus familiares e amigos, partilhe com eles rotinas e celebre as datas queridas. Além de os homenagear estará se abstraindo por breves momentos do seu universo.

 

Passatempos e conhecimento;

Neste lugar tudo fica longe, e um simples passeio de domingo para ir almoçar se traduz em mais de 4 horas de viagem (ida e volta). O aeroporto, onde apanho o tão aguardado avião para casa, fica a 6 horas de viagem. Ficar no acampamento pode assim tornar-se uma boa alternativa para relaxar durante a pausa semanal.

Considero-me hoje uma pessoa mais optimista do que no passado, e procuro encontrar as vantagens que nos apresentam cada oportunidade. Desta forma, transformo os meus tempos livres em momentos só meus: não é este o sonho de qualquer mortal quando divide a casa em ambiente familiar? Imaginem poder gerir toda essa quantidade de horas da forma como bem entendem?

Pessoalmente, sei que tenho uma mente inquieta e sempre me encantou o conhecimento, desta forma uso os meus tempos livres para melhorar as minhas competências linguísticas necessárias ao meu trabalho. Com a facilidade de acesso da internet, faço cursos online que há muito havia adiado.

Por isso quaisquer que sejam os vossos passatempos, saibam que têm muito tempo disponível para aproveitar, disfrutem!

 

Uma vida saudável;

Corpo são, mente sã! Pode bem parecer um cliché, mas é verdade. São inúmeros os textos que abordam o tema da vida saudável e seus efeitos no bem-estar físico e psicológico.

É por isso incrível que encontramos uma vez mais um equilíbrio entre o desafio psicológico a que estamos sujeitos nestas circunstâncias e as oportunidades que se nos oferecem para alcançar uma boa condição física.

Geralmente as cantinas são um ponto polémico em todas as obras, não se pode agradar a toda a gente, e a comida é tão diferente daquela que temos em casa. Aproveitemos para fazer uma dieta, que há tanto tempo andamos a adiar.

Espaço e tempo não faltam para fazer um pouco de exercício, nem que seja uma caminhada. Rapidamente se dará conta que os resultados o vão entusiasmar a assumir novos desafios.

Estes são “sacrifícios” que nos trazem a dose necessária de autoconfiança, para nos sentirmos seguros de nós mesmos na forma como gerimos as nossas emoções, as nossas expectativas e no modo como agimos no ambiente em que nos encontramos, equilibrando as nossas ações e reações.

Pessoalmente agrada-me uma cerveja ou um gin tónico ao fim-de semana, mas sei que se ultrapassar isso me vou sentir muito deprimido, assim que o efeito eufórico passar. Na realidade aprendi a conhecer os meus limites e as minhas fraquezas.

 

A sesta;

Lembro sempre da sesta do meu avô, todos os dias ele fazia uma sesta a seguir ao almoço e eu e o meu irmão, na irreverencia dos nossos 6 anos, teimávamos em não o deixar curtir este momento merecido. Na realidade não entendíamos a sua razão, a sua necessidade. Mais uma vez a experiência trouxe a constatação que talvez ele não estivesse assim tão errado.

Uma das vantagens de um acampamento é a proximidade. O quarto não fica assim tão longe, porque não aproveitar para fazer uma pausa após o almoço?

Com cerca de vinte minutos sinto que renovei as minhas energias e apto para mais um período de trabalho. Posso desde já assegurar que tenho que pensar o que farei quando não tiver o meu quarto perto do meu local de trabalho.

 

Sonhar com as férias

Está longe por um longo período, logicamente que tem o desejo de passar umas boas férias na sua estadia em casa. Estar aqui fechado, ajuda-nos a poupar um pouco mais, afinal não temos muito por onde gastar. É natural que queira passar bons momentos longe desta rotina.

Sonhar é fundamental e os nossos períodos de descanso fluem tão rápido entre o desejo e a impossibilidade de visitarmos todos os nossos familiares e amigos mais próximos.

Sempre tentei programar com alguma antecedência as férias para procurar conciliar as consultas médicas de rotina com os bons momentos de relaxamento total.

Na verdade, nessa correria em que procuramos atender e agradar a todos, acabamos por nos esquecermos de nós mesmos. Confesso que por vezes apanho o avião de regresso ao trabalho com o secreto desejo de relaxar.

Creio que o Covid-19 (incrível como o tema passou a fazer parte da nossa vida) trouxe-nos uma certeza, não vale a pena programar. Os seus sonhos e desejos devem-se adequar às possibilidades.

O importante é podermos por uns dias descansar o nosso cérebro desta vigilância 24/7 (24h/7 dias) a que estamos inconscientemente condicionados em ambiente de obra. Ocorre que nos primeiros dias, é difícil desconectar-nos, mas felizmente conseguimos!

 

Assim, ao partilhar a minha experiência, resultado das minhas vivencias, espero ajudar a que criar um olhar mais positivo, focado nas vantagens que podemos obter de estarmos condicionados a um ambiente desta natureza!

Conheci muita gente, pude observar como vivem essas experiências e ver como todos somos extraordinariamente diferentes, mas por outro lado procuramos todos o mesmo.

Desejamos descobrir atividades que nos permitam suportar por longos períodos a distância e o isolamento, e que não se tornem rotina como a que estamos sujeitos por função do trabalho. Assim bailamos todos da forma que sabemos, nessa constante aventura que é a vida!