domingo, 12 de janeiro de 2014


Na busca de si próprio


Na verdade a viagem transformara-se numa viagem dentro dele próprio, Tiago sentiu-se sobressaltado por este sentimento e ansia de se reencontrar com ele mesmo.

A rotina dos dias, calma acomodação adormecera nele a sua constante inquietação.

Porém só, naquele território e distante da sua zona de conforto, entregue unicamente a si, impeliu-o na necessidade de se relacionar consigo mesmo, como se de um estranho se tratasse.

O tempo havia passado e esse reencontro foi mais suave que das outras vezes. O momento era outro e bastantes contradições se haviam então esfumado pela própria razão da sua inexistência.

Tiago procurava dentro de si, dentro do infinito de si mesmo, procurava a sua própria existência, bem como a razão de existir. Tentava entender e compreender as suas emoções.

O reflexo que via dele no seu relacionamento com os outros habitantes nem sempre coincidia com a conquista que julgava crescer do conhecimento de si mesmo.

Por isso, interpelava uma infinidade de pessoas com as quais procurava espelhar o seu desassossego, a sua busca, a eterna busca por algo que nem conhecia.

Pretendia encontrar no diálogo consigo mesmo, através do seu relacionamento social, as respostas que não encontrava dentro de si.

Este inevitável contato humano, razão de uma necessidade de pura sobrevivência, de procura de afeto, criara nele uma crescente confiança na sua capacidade de se relacionar para além do seu habitat familiar, onde se sentia naturalmente protegido.

Este efeito era formidavelmente agradável para ele, pois sentia, o que nunca houvera sentido até então. Sentia que- os medos e receios de anos eram infundados. Sentia que havia apreço pela sua presença, admiração pelas suas ideias e agrado pela sua companhia.

Porém, quando só, a sua angústia mantinha-se acesa, como acesa estava a imagem totalmente desfocada da ideia que ele tinha em si mesmo.

O seu reflexo nos outros não o deixava tranquilo pois sabia que não se libertava a modo de permitir uma imagem real dele mesmo. Procurava por insegurança que o reflexo dele nunca combinasse com a ideia sempre negativa que tinha de si mesmo.

Deixava esse lado obscuro selado dentro do seu coração.

As emoções, ele as conhecia bem. Conseguia viver um arco iris de felicidade dentro de um mar tenebroso e escuro de angústia e tristeza.

Estes limites esgotavam-no, e exausto continuava o caminho na busca de si próprio.

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