domingo, 12 de janeiro de 2014

Sinto-me tão triste, vazio
sucumbo à minha própria
compaixão

Não fui feito para a solidão
não sei viver comigo mesmo

Odeio este silêncio
não quero estar só
faz-me mal

Estou intensamente infeliz
a noite cai sobre mim
as horas não passam

Não ouso falar com receio
de ouvir a minha voz

Falem comigo, digam-me
algo, toquem-me. Preciso
de estar entre vós, meus amigos

lá longe, deixei uma família
igualmente infeliz. só

fará sentido esta vida?
por vezes penso que não

Não procuro amor, procuro
alguém, procuro um gesto
quero um abraço

As horas de diversão diluem-se
neste mar imenso, neste espaço
temporal do silêncio

Estou refém da vossa vontade
do vosso tempo. sorvo todo
o pouco que me cedem

Vivo a vossa vida e esqueço
a minha. A minha que é vazia
pois sinto-me tão vazio

Até a noite se enche
de algo apesar do vasto silêncio,
que amargo é o sofrimento

Sejam benvindos os que me
chamarem para junto deles

Obrigado aos que me escutarem
estarei grato a quem me abraçar

os anos passam e esta cena repete-se
o desgosto persegue-me

esta perturbante inquietação
esta eterna solidão
esta pesada herança do nada

continuo sem saber me defender
não sei me proteger

percorro passo a passo este minúsculo
espaço e não encontro sossego
nem com quatro capsulas consigo
dormir

a inquietação é grande e o sofrimento
é maior ainda

o que me perturba mais é que
não farei nada e vou esperar
que se repita sempre, sempre

sou vitima de mim mesmo
sou refém da minha distância
sou culpado por ter medo de
conhecer, explorar e arriscar

cada pessoa é um desafio
inquieta-me saber o resultado
tenho receio de falhar e no
fundo isso é banal

se eu pudesse ser normal
se eu conseguisse dar-me
a mim sem ter de me entregar

gostava de ser normal como
os outros, simplesmente feliz
não ver a complexidade onde
existe felicidade

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