Sinto-me tão triste, vazio
sucumbo à minha própria
compaixão
Não fui feito para a solidão
não sei viver comigo mesmo
Odeio este silêncio
não quero estar só
faz-me mal
Estou intensamente infeliz
a noite cai sobre mim
as horas não passam
Não ouso falar com receio
de ouvir a minha voz
Falem comigo, digam-me
algo, toquem-me. Preciso
de estar entre vós, meus amigos
lá longe, deixei uma família
igualmente infeliz. só
fará sentido esta vida?
por vezes penso que não
Não procuro amor, procuro
alguém, procuro um gesto
quero um abraço
As horas de diversão diluem-se
neste mar imenso, neste espaço
temporal do silêncio
Estou refém da vossa vontade
do vosso tempo. sorvo todo
o pouco que me cedem
Vivo a vossa vida e esqueço
a minha. A minha que é vazia
pois sinto-me tão vazio
Até a noite se enche
de algo apesar do vasto silêncio,
que amargo é o sofrimento
Sejam benvindos os que me
chamarem para junto deles
Obrigado aos que me escutarem
estarei grato a quem me abraçar
os anos passam e esta cena repete-se
o desgosto persegue-me
esta perturbante inquietação
esta eterna solidão
esta pesada herança do nada
continuo sem saber me defender
não sei me proteger
percorro passo a passo este minúsculo
espaço e não encontro sossego
nem com quatro capsulas consigo
dormir
a inquietação é grande e o sofrimento
é maior ainda
o que me perturba mais é que
não farei nada e vou esperar
que se repita sempre, sempre
sou vitima de mim mesmo
sou refém da minha distância
sou culpado por ter medo de
conhecer, explorar e arriscar
cada pessoa é um desafio
inquieta-me saber o resultado
tenho receio de falhar e no
fundo isso é banal
se eu pudesse ser normal
se eu conseguisse dar-me
a mim sem ter de me entregar
gostava de ser normal como
os outros, simplesmente feliz
não ver a complexidade onde
existe felicidade
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