25 de Abril sempre,
fascismo nunca mais!
Aqui distante no
Brasil, ouço a vossa voz no Marquês, descendo essa avenida colorida de cravos
até ao Rossio.
Lembro 40 anos de memória
que trago deste privilégio de ser filho da revolução, de ter herdado um mundo
melhor, onde pude falar livremente, em que as fronteiras nunca se fecharam
diante de mim, onde os meus sonhos não foram negados.
O mundo “evoluiu” no
sentido contrário ao que desejo, mas “ainda” temos o privilégio de poder
escolher. Não sei se algum dia haveremos de ter a lucidez coletiva de escolher formas
alternativas a este “carneirismo” e “seguidismo” globalizado de entender a
sociedade e a política.
Não tenho a coragem
dos que lutam, não tenho a determinação dos que não se resignam. Prefiro levar-me
pelo encanto das palavras e pela suavidade da poesia.
Porém hoje, uso o
poder da palavra nesta necessidade de evocar Abril, com consciência que a luta
se trava todos os dias, pois todos os dias perdemos as conquistas de Abril.
Um dia, acordaremos
com uma arma na cabeça, nos levando para uma esquadra, onde seguiremos para
anos de prisão sem julgamento e sem condenação, perante a indiferença o ou medo
dos vizinhos. O medo de serem os próximos.
Um dia, acordaremos
com a boca cozida para não gritarmos e não apelarmos à revolta.
Um dia, acordaremos
com os nossos textos queimados.
Um dia, as nossas
ideias ser-nos-ão negadas.
Um dia, a nossa
vontade será de lutar sem recear morrer.
Para que esperar por esse
dia? antes aceitar que ele está próximo, pois a liberdade também é aproveitada
pelos que a desejam negar. Eles não dormem!
Assim, continuo a
acreditar que a memória do 25 de Abril é decisiva para nos manter alerta, é
determinante na vontade de querer dizer que o fascismo nunca mais.