Quarto de Hotel
Quem não experimentou
essa sensação de passar uma noite só, num quarto de hotel, não conhece todo
um tipo de sensações que se contradizem entre elas.
Tudo se inicia com a
expetativa de conhecer o espaço e descobrir tudo o que ele oferece. Tentamos compensar
a ausência do nosso lar, no aparente conforto que nos transmite este estranho
contentamento de estar num quarto de hotel.
Este namoro é efémero
em breve se desvanece por algum pormenor esquecido que lembramos subitamente de
outro quarto, daquele outro que nos maravilhou. Ainda estamos no estágio da
total ausência de introspecção, pois esse abismo não se abate logo sobre nós.
Em seguida, sentimos
desejo, sentimos vontade de fazer tudo o que nos foge à rotina, desejamos algo
inusitado, fetiches escondidos e reprimidos. Deixamo-nos estar deliciados até
perceber que são tão irreais como a miragem de uma tenda num deserto.
Voltamos a ser nós
próprios, acomodamo-nos ao ambiente e desfazemos lentamente parte da mala,
experimentamos a casa de banho e tal como os animais marcamos o nosso
território, pois também precisamos de sentir essa mesma segurança.
Em seguida, vamos
explorar o hotel, os seus serviços, que sabemos ser a extensão do nosso breve
lar. Essa primeira excursão é geralmente rápida, apenas precisamos de verificar
detalhes para pontuar o hotel.
Voltamos em passo
largo para o nosso quarto, verificamos tudo novamente e aí sentimo-nos em
segurança. Nesse instante estamos em condições de regressar a nós próprios e
então cai sobre nós esta profunda tristeza do abandono, pensamos no que
largámos, naqueles que amamos, no pouco que nos acompanha.
No vazio nos deitamos,
esperamos que o cansaço nos vença e nos deixe dormir sem muito pensar. No vazio
acordamos, geralmente perdidos no espaço, sem um rosto a quem sorrir, sem uma
voz para nos ouvir.
Em silêncio nos
preparamos pausadamente ou rapidamente, pensando nessa deliciosa refeição que
nos irá compensar deste tempo em que estivemos privados da vida. Este alento
invade-nos de esperança e com alegria chegamos ao lugar de convívio, em que
outros como nós ocupam já os seus lugares. E neste lugar, igual a tantos
outros, repetem-se os mesmos gestos de um café da manhã.
Voltamos ao quarto, arrumamos
os nossos pertences, despedimo-nos de todos os cantos, procurando por algo porventura
perdido e a mudança está feita. Novo olhar breve, em tom de despedida,
respiramos fundo, fechamos a porta do quarto de hotel.
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