Maria
Maria era uma mulher
como tantas outras. Sofria, não amava e não era amada. Perdera os seus sonhos
com o passar dos anos. Sobrecarregada em trabalho e filhos esquecera dela mesmo.
Em silêncio mantinha
rotinas, escondia desejos, vivia fetiches. Tinha vergonha, pensava ser a única
e não partilhava segredos. Refugiava-se na sua dimensão, nesse espaço sentia-se
melhor vivendo por outros, por vezes meras ficções, personagens de livros.
Passava na rua, cabeça
para baixo e sempre em passos rápidos. Tinha medo de olhar e ficar fascinada
com um mundo a que não chegava e nunca vivera. Tinha vontade dessa paixão que
sabia existir, que lera e ouvira. Queria ser beijada, idolatrada, possuída como
nunca ousara pedir.
E o desejo é como a
dor de dente, não se cura somente com muita vontade. Tem que se pôr a mão,
enfrentar, realizar. Maria ousou, provou e não desgostou. Sentiu-se mulher,
amada e desejada.
Depois veio a culpa, o
receio e a recusa de enfrentar novamente aquela vida. Não queria voltar para a
sombra depois de ter visto a luz, de ter sentido o chão tremer por baixo dela.
Maria não podia ser feliz, não era certamente o seu destino. Só, Maria se jogou
sorrindo daquela ponte...
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