segunda-feira, 28 de julho de 2014


Maria

 

Maria era uma mulher como tantas outras. Sofria, não amava e não era amada. Perdera os seus sonhos com o passar dos anos. Sobrecarregada em trabalho e filhos esquecera dela mesmo.

Em silêncio mantinha rotinas, escondia desejos, vivia fetiches. Tinha vergonha, pensava ser a única e não partilhava segredos. Refugiava-se na sua dimensão, nesse espaço sentia-se melhor vivendo por outros, por vezes meras ficções, personagens de livros.

Passava na rua, cabeça para baixo e sempre em passos rápidos. Tinha medo de olhar e ficar fascinada com um mundo a que não chegava e nunca vivera. Tinha vontade dessa paixão que sabia existir, que lera e ouvira. Queria ser beijada, idolatrada, possuída como nunca ousara pedir.

E o desejo é como a dor de dente, não se cura somente com muita vontade. Tem que se pôr a mão, enfrentar, realizar. Maria ousou, provou e não desgostou. Sentiu-se mulher, amada e desejada.

Depois veio a culpa, o receio e a recusa de enfrentar novamente aquela vida. Não queria voltar para a sombra depois de ter visto a luz, de ter sentido o chão tremer por baixo dela. Maria não podia ser feliz, não era certamente o seu destino. Só, Maria se jogou sorrindo daquela ponte...

 

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