Não guardo memória de
tudo o que não fiz,
nem sei mesmo no que
me teria tornado,
abdiquei de as sentir,
abstive-me de as viver.
Fui refém desse
arrependimento,
fui infeliz em busca
de outras vidas
não vividas, sem saber
o que procurar.
Criei mundos
imaginários, distintos do meu,
num movimento bipolar
entre o ser
e o querer.
Perdi-me, deixei de
entender como tinha
erguido as avenidas
que guiavam as minhas
ações.
Incapaz de sair do labirinto,
desfazer o nó
e desvendar o quebra
cabeças, eu me
isolei, não soube
comunicar.
Vivia um presente
esperado, num misto de
desejo e angústia, de alegria
e de fúria,
numa dor que sentia e
não queria.
Não me amei, não
permiti que me amassem,
não deixei que invadissem
o meu mundo,
não sabia o que
mostrar.
Sem futuro, algemado à
vida, exigi de outros
o que eu não fazia e revoltei-me
de mim mesmo.
Não quis morrer assim.
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