UM DIA
FELIZ
É frequente vaguear
pelas ruas da cidade e pensar que estou junto de ti, falo contigo, rio e a
caminhada corre naturalmente, as pessoas passam e nem as vejo, pois é contigo
que converso e distraído, nem vejo que num instante percorremos toda uma imensa
distância.
Cansada, tu
pedes-me para parar, sentamo-nos no parque, compro uma água, tu bebes um golo e
eu admiro os teus lábios sorvendo-a calmamente e isso me refresca também. Está
calor, imenso calor, tens uma blusa leve e eu admiro a tua pele que sei macia.
As árvores abrigam-nos do sol tórrido e assim nos deixamos ficar sem pressa.
Pego no livro e
leio umas linhas, tu repousas as tuas pernas ao meu colo, gosto da tua
tranquilidade, tu distraíste com o fluxo das pessoas que passam e observas, e
sabes que eu te observo. A minha leitura não para o nosso diálogo, eu leio para
ti e tu falas para mim.
Tenho fome,
seguimos então o nosso caminho rumo ao acaso, tudo é incerto quando estamos
perdidos, seguimos os instintos e os sentidos, farejamos por um cheiro que nos
agrade. Sentamo-nos numa mesa, tudo permanece eternamente azul, o tempo parou,
os instantes parecem percorrer ilimitadamente a minha memória. O gelado que
partilhamos dissolve-se gostosamente nas nossas bocas. As pessoas estão imóveis
saboreando os seus gelados, o momento é mágico pois ninguém pretende perturbar
o silêncio desfrutado nessa magia.
Peço um café, tu
preferes beber um pouco do meu. Olho para ti, tu olhas para mim, adivinhamos
desejos, sorrimos e eu te beijo. Partimos novamente, onde iremos parar agora.
Tu lembras-te do filme de que te falaram que é muito bom, parece-me uma boa
ideia terminar esta tarde deliciosa com um bom filme.
No cinema, está
frio, a tua pele parece arrepiada, chegas-te para mim e eu sinto o teu cheiro,
vemos o filme e eu perco-me novamente nas minhas memórias e tu nas tuas. O
escuro cria sempre introspeção. O filme afinal não é o que esperávamos, mas o
momento, disfrutamos para nos perdermos novamente no vazio. No vazio da
felicidade sem remorsos de poder ser feliz sem ter de entender porquê.
Saímos e já é
noite, estás cansada, eu abraço-te e seguimos para casa, no carro tu repousas
enquanto eu te guio pelas luzes dessa linda cidade que tanto adoro. Entro em
casa preso à minha solidão, mas feliz por teres estado comigo neste dia em que
só, me perdi na tua companhia e o tempo apaziguou a minha agonia.
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