domingo, 12 de janeiro de 2014

UM DIA FELIZ


 Quando eles se perderam ninguém estranhou, eu também não, pois eu mesmo ando perdido, perdido em mim mesmo.

É frequente vaguear pelas ruas da cidade e pensar que estou junto de ti, falo contigo, rio e a caminhada corre naturalmente, as pessoas passam e nem as vejo, pois é contigo que converso e distraído, nem vejo que num instante percorremos toda uma imensa distância.

Cansada, tu pedes-me para parar, sentamo-nos no parque, compro uma água, tu bebes um golo e eu admiro os teus lábios sorvendo-a calmamente e isso me refresca também. Está calor, imenso calor, tens uma blusa leve e eu admiro a tua pele que sei macia. As árvores abrigam-nos do sol tórrido e assim nos deixamos ficar sem pressa.

Pego no livro e leio umas linhas, tu repousas as tuas pernas ao meu colo, gosto da tua tranquilidade, tu distraíste com o fluxo das pessoas que passam e observas, e sabes que eu te observo. A minha leitura não para o nosso diálogo, eu leio para ti e tu falas para mim.

Tenho fome, seguimos então o nosso caminho rumo ao acaso, tudo é incerto quando estamos perdidos, seguimos os instintos e os sentidos, farejamos por um cheiro que nos agrade. Sentamo-nos numa mesa, tudo permanece eternamente azul, o tempo parou, os instantes parecem percorrer ilimitadamente a minha memória. O gelado que partilhamos dissolve-se gostosamente nas nossas bocas. As pessoas estão imóveis saboreando os seus gelados, o momento é mágico pois ninguém pretende perturbar o silêncio desfrutado nessa magia.

Peço um café, tu preferes beber um pouco do meu. Olho para ti, tu olhas para mim, adivinhamos desejos, sorrimos e eu te beijo. Partimos novamente, onde iremos parar agora. Tu lembras-te do filme de que te falaram que é muito bom, parece-me uma boa ideia terminar esta tarde deliciosa com um bom filme.

No cinema, está frio, a tua pele parece arrepiada, chegas-te para mim e eu sinto o teu cheiro, vemos o filme e eu perco-me novamente nas minhas memórias e tu nas tuas. O escuro cria sempre introspeção. O filme afinal não é o que esperávamos, mas o momento, disfrutamos para nos perdermos novamente no vazio. No vazio da felicidade sem remorsos de poder ser feliz sem ter de entender porquê.

Saímos e já é noite, estás cansada, eu abraço-te e seguimos para casa, no carro tu repousas enquanto eu te guio pelas luzes dessa linda cidade que tanto adoro. Entro em casa preso à minha solidão, mas feliz por teres estado comigo neste dia em que só, me perdi na tua companhia e o tempo apaziguou a minha agonia.

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