sexta-feira, 31 de janeiro de 2014


Hoje


Não sei o que se passa, estou excessivamente tranquilo,
a calma invade-me, não estou habituado a viver assim.
Sinto-me de certa forma inanimado, sem a minha constante
insatisfação face à vida, sem a ininterrupta inquietação
em torno de mim mesmo.

No entanto, aproveito serenamente este doce momento,
em que me sinto igual a tantos outros que, levam as suas
vidas sem receios, nem incertezas.
A vida também pode ser vivida assim, aceitando as coisas
como elas o são, sem a necessidade de as racionalizar.

Sinto a ressaca da melancolia, sinto-me a flutuar neste
éter mágico que anestesia a dor da solidão.
Sinto que não sou eu, sou outro que não eu.
pseudônimos, heterônimos, múltiplas personalidades e
variações de humor têm os loucos.

Hoje estou racionalmente louco.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014


Tristeza


Sinto uma agonizante tristeza ao ver a Humanidade caminhar impavidamente para a sua destruição. Não me refiro à destruição do nosso passado, mas sim à anulação do futuro.
Por quanto tempo mais continuaremos a aceitar esta falsa solidariedade que não faz senão encobrir um despotismo dilacerante.

Grito, mas o meu, o nosso grito não cala a desgraça.
Grito, mas o silvo das bombas ecoa mais forte nas cabeças dos intolerantes que conduzem os nossos destinos.

Democracia não significa isso. Democracia não justifica tudo isso, pois não tolero nem aceito este rumo traçado por objetivos obscuros e sombrios.
Assim aguardo Abril. Aguardo Abril, no secreto desejo que este atenue, nem que por breves momentos este crescendo de miséria, e acorde de vez a voz da revolta.
Boa noite

Na hora em que decidi postar grande parte dos meus textos, tenho a consciência que decidi me expor perante um universo de pessoas que me conhecem e outro tanto que nunca me viu ou verá alguma vez.

É precisamente nesta circunstância e nesta magnifica ilusão que discurso, aliás o discurso não é senão uma forma de me manter vivo neste universo tão amplo e vago. Agradeço um a um, todos os comentários, bem como cada uma das visualizações deste espaço tão pessoal.

Estou neste momento a fazer descobertas e experiências que me entusiasmam. Decidi assim, que o processo de criação de um poema fosse executado nesta plataforma desde o primeiro instante, não por vaidade mas simplesmente por curiosidade.

Apesar da tristeza, adoro o simples facto de adorar,
Filipe

sábado, 25 de janeiro de 2014

Movimento sem fim


Cada vez que penso, reinvento-me
fico sem raizes e caio
levanto-me perdido do que era, sou, serei

Desgasto-me nos meus pensamentos,
viciado neste processo infinito,
labirinto eterno em que prendo a minha vida

e caminho assim, de dúvida em dúvida,
procurando respostas que não existem
em lugares que não encontro

tal como o movimento perpétuo,
prossigo esta estrada sem fim,
sem certezas e nenhumas esperanças

por vezes imagino tudo diferente,
outra vida onde existem realizações
e raciocínios coerentes.

no entanto o sonho é tão irreal
como a alienação, neste mecanismo
de meditação continua

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014


Pássaro Azul


Que nem ave migratória, percorres longas distâncias
com as tuas asas abertas num voo suave.

Dentro de ti transportas vidas, carregas objetos que
têm histórias e levas sonhos de pouso em pouso.

Hoje, fugindo à regra, sentei-me na janela, sobre a tua
asa e serenamente sinto o teu balancear  e não estou
alheio ao teu esforço.

Os meus olhos perdem-se no infinito, sinto-me poderoso
sobre a imensidão de bolas de algodão suspensas sobre
cabos invisíveis.

A música é deliciosamente calma, eu seria capaz de
continuar contigo este voo, mas tenho de sair, seguir
o meu caminho em terra.

Tenho a esperança de te encontrar no teu regresso.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Sorriso


O sorriso da minha filha é delicioso,
é genuíno, sincero e magnifico.

O sorriso da minha filha quebra a
rotina, destrói a angustia e anula
a tristeza.

O sorriso da minha filha faz-me sorrir
também. Aqui longe, lembro-me dele e
adormeço tranquilamente, como se me
acompanhasse.

O sorriso da minha filha, tem um rosto
de ternura, uns olhos redondos e despertos,
um nariz de menina e a boca...
A boca tem o jeito da minha filha!

O sorriso da minha filha tem o abraço
que sinto em meu redor, tem um
coração que bate com amor e traz
com ele a esperança.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014


Amizade      Angustia              

Abraço                       Amargura                          
Mimo                          Nervos                                       
Irmão                         Gesto                                  
Zelar                           Uivo                                     
Amigo                        Sofrimento                       
Dar                               Terror                                  
Entender                  Irritação
                                        Ardor                            

É(scutar)                 É(xplodir)                

Atar                             Destruir
Marcar                      Odio                                     
Olhar                          Raiva                                   
Receber                       

                                        MATEMÁTICA


         Naquela pequena escola do bairro, todos eram muito felizes. Os meninos e meninas brincavam e eram alegres, a Professora era bonita e jovem. Porém Matemática sentia-se muito só, todos a afastavam, não a convidavam para as suas brincadeiras. Preferiam as outras disciplinas, elas eram mais sociáveis, mais brincalhonas.

         Na verdade, ninguém tentara brincar com a Matemática, era mais velha e tinha uma aparência árabe. Ela representava para eles uma ameaça , ela exigia sempre tudo certo e não aceitava um erro.

         As línguas, por exemplo, permitia-lhes uma série de diversões. Podiam escrever grandes redações, onde contavam com as suas letras bem desenhadas, todas as heroicas aventuras das suas gloriosas férias. Podiam também, sem nunca se fartarem, jogar á forca.

         Da história, ouviam pasmados e deliciados a Professora contar as maravilhas dos seus reis, navegadores e dos grandes notáveis, homens e mulheres, combatentes pela liberdade.

         Mas o que eles mais gostavam, eram certamente as horas de trabalhos manuais, desenho e desporto. Aí podiam soltar toda a sua imaginação, criatividade e as suas inesgotáveis energias. Nunca se cansariam de correr, nunca se fartariam de pintar, colar ou mesmo rasgar.

         Mas sempre que a Professora chegava á Matemática o mundo ficava mais escuro, mais pesado. Os rostos vermelhos e graciosos tornavam-se de repente brancos e vazios. Os olhos morriam e fechavam-se. Os alunos resignavam-se, nada os divertia na Matemática. Não podiam brincar, manipular, transformar. Só podiam aceitar, calcular, resolver.

         Um dia a Professora vendo Matemática triste, até as pedras choravam de a ver assim, aproximou-se tentando ampara-la. Foi então que Matemática explicou porque sofria, nenhum dos meninos e meninas gostava dela, nunca brincavam com ela. A Professora já notara que os seus alunos não gostavam muito da Matemática, mas, não sabia bem como resolver esta situação. Lembrava-se que quando ainda pequena, também, nunca fora companheira da Matemática. Esta abriu o coração e soluçando confiou o seu segredo.

         Bastava que a Professora quando falasse dela aos alunos, lhes transmitisse alegria, desenhasse os números redondos e bonitos, brincasse com a Matemática mostrando, que o “1”, o “2”, o “3”, o “+” e o “-”, podem ser tão amigos como o “a”, o “b”, o “c”, a “,” ou o “!”.

         Afinal tudo dependia da forma como era apresentada aos alunos, da simplicidade com que os problemas eram expostos e resolvidos, do tempo que lhes era dedicado, da alegria com que era recebida pelos alunos.

         Foi a partir desta data, que todos os homens e mulheres perceberam que também gostavam da Matemática e nunca mais a deixaram só. Os seus filhos e netos passaram a aceita-la com a mesma naturalidade que a história, as línguas, o desenho e o desporto.

O primeiro olhar
 
O amor deles não era comum, nunca se tinha visto nada igual, ninguém o sabia porem.
Eles o viviam discretamente e intensamente. Sobre eles descia um áurea avassaladora e tudo se desvanecia nesse manto de amor, de magia e de grandiosa cumplicidade.
Nem eles o teriam imaginado naquele primeiro olhal, naquele gatilho que os uniu para a eternidade. Sabiam que havia algo de misterioso e que não entendiam mas não questionavam a sorte que os unia.
Passavam horas fazendo os seus projetos de vida em que tentavam derrubar as enormes barreiras que os separavam. Não é fácil amar, toda gente sabe disso! Mas eles sabiam superar os medos, as duvidas e as angústias com gargalhadas e afetos.
Nem mesmo a distância os desarmava, o ímpeto crescia com o passar vagaroso do tempo que os acompanhava. Tinham decidido jogar a sua sorte na sua própria existência. O passar dos anos iria jogar a favor, pois sabiam que tudo os ajudaria a viverem maravilhosos momentos, que se transformariam de efémero em eterno.
Neste pequeno mundo eles partilhavam uma imensa e poderosa força. Uma aliança de respeito confiança e extrema admiração. Acompanhavam cada sucesso pessoal como um sucesso único e celebravam em conjunto todas as vitórias. As angústias também eram solidárias e assim se apoiavam solidamente.
Não fora certamente o acaso que os unira no mesmo dia num mesmo espaço, podem crer que a sorte não existe, houve certamente a perfeita noção que este momento deveria ter sido criado para que eles se encontrassem.
Ambos se encontravam desfeitos, a tristeza invadia-os, e foi a solidão que os guiou para o mesmo lugar naquela tarde, não foram eles. Sentados um perto do outro e absorvidos pelos seus pensamentos, sentiram a presença um do outro, e assim cruzaram que os olhos, encontraram a energia necessária para se conhecerem.
Durante dias e horas foram contando um ao outro tudo o que sabiam, minuciosamente escutavam cada palavra que gravavam no coração. Os afetos e o carinho acompanhavam em crescendo toda a atmosfera. Os seus corpos estavam ligados, a pele se atraia numa polaridade invulgar.
Boa noite,

Este início foi saboroso, fui curtindo a seleção de alguns textos sem qualquer critério de género, nem seguindo uma ordem cronológica. Fui apenas seguindo e confundindo emoções e sentimentos.

A minha obra sempre foi um escape à solidão, sempre foi um retrato de mim mesmo, embora busque ultimamente seguir novas aventuras, criar algo diferente, algo que desconheço, tal como desconhecia como se fazia um blog. Serei eu realmente capaz?

A parte intimista não me irá abandonar, pois é a minha essência, onde me refugio. Divulgar alguns destes textos é, para mim, uma aventura, onde me revelo e solto o que sinto no segredo do silêncio. As minhas angustias, a minha tristeza e hesitação persistente fazem parte de mim, estimo-as apesar de me fazerem mal. A serenidade e a alegria, são efêmeras e saboreio-as nessa mesma medida.

Estou assim optimista, neste meu espaço que é meu, onde pretendo continuar a ser eu para mim mesmo, com as minhas regras, mas sabendo que não estou só. Sinto-me protegido por vocês.

Obrigado,
Filipe

domingo, 12 de janeiro de 2014

                              O QUE FAZ O MEU PAI


Meus filhos, vou explicar-vos o que faço. Como sabem sou engenheiro e os engenheiros constroem.

Uns engenheiros constroem casas, outros constroem estradas e eu construo estradas em ferro, chamados caminhos-de-ferro, por onde andam os comboios. Vocês sabiam que existem também engenheiros que constroem carros, outros constroem computadores e outros constroem as linhas que trazem a luz para a nossa casa.

Mas construir isso tudo não é fácil, por isso precisamos de ajuda e tal como as formigas ou as abelhas dividimos o trabalho. Assim, cada um faz uma parte e a nossa colmeia é muito grande.

Sim, vocês têm razão, nós temos máquinas que foram construídas por engenheiros para nos ajudar a fazer as coisas mais pesadas. As máquinas são muito importantes, nós cuidamos muito bem delas, tal como as vossas bicicletas, ou carro da mãe.

Como se constrói um caminho-de-ferro? Bem tu sabes filho, porque já foste comigo e viste que todos estávamos de capacete, muita gente e muitas máquinas, lembras-te? Mas eu vou contar-vos a história desde o início.

Imaginem que queremos pôr um comboio a andar de casa até à vossa escola. Tal como o caminho que fazem no carro com a mãe, teremos que imaginar um outro caminho para o comboio fazer, para não impedir que os pais e as mães de levar e buscar os meninos e meninas de carro.

Imaginar esse caminho, pensar como fazer o comboio passar sem destruir muitas casas, sem impedir os carros de passar, é o trabalho do engenheiro. Mas quem vai decidir por onde passar vão ser outras pessoas, por isso, o engenheiro vai dar 2 ou 3 caminhos possíveis, para se escolher o melhor.

Como é que vocês escolhem um brinquedo? Pensam no dinheiro que têm juntado com as semanadas e decidem aquilo que mais vos agrada, pensam onde irão brincar e com quem brincar. É igual com este comboio! Quem vai decidir sabe quanto dinheiro tem para pagar o trabalho, comprar o comboio e vai querer que muita gente aproveite do comboio.

Depois é preciso construir tudo, o caminho é especial como já viram, porque os comboios não têm pneus. Como os comboios são grandes e não queremos fazer mais fumo, o engenheiro faz um comboio que anda com eletricidade, por isso é preciso também estender uns fios para levar a eletricidade pelo caminho todo.

Para construir usamos desenhos que mostram o que fazer e como fazer. A estes desenhos chamamos projetos. E quem faz os projetos são engenheiros que estão em salas a pensar e fazer contas para não se enganarem e o comboio não parar. O comboio não pode parar, pois não?

Depois começa a obra, onde estão as máquinas e todas as outras formigas que vão colocar as peças que permitem fazer andar o comboio. Para isso temos que comprar estas peças. Mas como sabemos que peças comprar? Reparem, estes desenhos, de que vos falei, o projeto tem tudo escrito. Basta ler e contar as peças. É preciso ter muita atenção e ver bem, porque se comprarmos outras peças o comboio não anda. Se a mãe não comprar os ovos também não faz o bolo que vocês pediram.

Quando as peças chegam, existe alguém que vai ver que estão boas, imaginem que estão partidas! Pois é, tens razão filha, é uma chatice e tudo para. Por isso as peças boas são guardadas e as peças estragadas vão para trás, ninguém as quer.

Rapidamente os engenheiros, as maquinas, as abelhas e as formigas constroem uma linha que permite ir de casa até à escola. Vocês acham que vão andar nesse comboio? Acham seguro?

Podem andar à vontade, pois vai haver uma data de engenheiros a fazer testes, por o comboio a andar de um lado para o outro, a travar e acelerar, abrir e fechar as portas para ninguém se aleijar.

Como todos viram essas obras e os meninos estão ansiosos para apanhar o comboio, faz-se uma festa para a primeira viagem e todos falam, os músicos tocam e os engenheiros fazem as malas, para ir fazer mais pessoas felizes, na rua do teu amigo, ou na rua de uma menina.

Como sabem, eu estou no Brasil, e aqui os meninos também estão muito felizes porque em breve vão poder ir de comboio para escola.

Uma Mosca chamada Ivana


 

Ivana não era uma mosca igual às outras.
 
Ivana gostava de perfumar-se e arranjar-se antes de sair para passear.

Detestava a mania, que as outras moscas têm, de cheirar caixotes de lixo.

Ivana vestia-se de preto como as outras moscas, mas não era um vestido qualquer, era de cetim brilhante e engomado.

Ai estas moscas que andam para aí de fato-macaco preto, nem lavam as asas antes de ir comer – dizia Ivana, a mosca betinha.

 Mas um dia, um menino que não conhecia esta mosca tão especial, agarrou-a quando ela estava distraída a pentear-se e ZÁS, espetou com ela numa garrafa, onde estavam mais moscas.

Bem que Ivana podia gritar, espernear ou esvoaçar, que nada a ajudaria. Até que Pestana, uma mosca mesmo muito mal cheirosa lhe disse – Queres fugir? Eu ajudo-te.

Ivana ficou surpreendida. Aquela mosca muito mal cheirosa podia ajuda-la. Cansada e triste aceitou.
 

Vamos, come fruta podre – disse Pestana.

 Não, que horror não consigo! – disse Ivana.

 Vá lá, não queres sair!!! – disseram as mosquinhas quase mortas.

 Claro que quero – e lá comeu aquela porcaria.

 Agora dá um pum! – disse Pestana.
 

Então Ivana fez força, fez tanta, tanta força, que com um só pum partiu o vidro e fugiu.

  

Moral da História: Se és mosca, porta-te como uma mosca. Come fruta podre, cheira caixotes de lixo e esquece os perfumes.

 

 

Clube do Choro de Brasília


Lugar de culto, lugar de convívio,
lugar de cultura.

O espaço permite cumplicidade
e  amizade.

Sinto-me protegido, apesar de só, porque estou
entre pessoas iguais.

As mesas são divididas em ambiente de paz.

Este será certamente o meu abrigo e o lugar
onde os amigos me poderão encontrar.

Será prematuro? ainda agora cheguei.

Acho que não, pois o primeiro impacto
é tão forte como a paixão.

A música é boa, mas como a comida e a
bebida, é uma desculpa que nos trás cá.

Na essência eu vou voltar por tudo um pouco,
pelo inicio em que vamos enchendo este
espaço. Pelos beijos e abraços daqueles amigos
que vão chegando.

por saber que o tempo não é perdido.

Não tem a frescura de um bar ao ar livre mas
a intimidade de um bom abrigo.

saboreio este sossego que me permite escrever,
pensar e viver serenamente.

Sinto-me feliz aqui e isso basta!

Não é tão bom?
Sinto-me tão triste, vazio
sucumbo à minha própria
compaixão

Não fui feito para a solidão
não sei viver comigo mesmo

Odeio este silêncio
não quero estar só
faz-me mal

Estou intensamente infeliz
a noite cai sobre mim
as horas não passam

Não ouso falar com receio
de ouvir a minha voz

Falem comigo, digam-me
algo, toquem-me. Preciso
de estar entre vós, meus amigos

lá longe, deixei uma família
igualmente infeliz. só

fará sentido esta vida?
por vezes penso que não

Não procuro amor, procuro
alguém, procuro um gesto
quero um abraço

As horas de diversão diluem-se
neste mar imenso, neste espaço
temporal do silêncio

Estou refém da vossa vontade
do vosso tempo. sorvo todo
o pouco que me cedem

Vivo a vossa vida e esqueço
a minha. A minha que é vazia
pois sinto-me tão vazio

Até a noite se enche
de algo apesar do vasto silêncio,
que amargo é o sofrimento

Sejam benvindos os que me
chamarem para junto deles

Obrigado aos que me escutarem
estarei grato a quem me abraçar

os anos passam e esta cena repete-se
o desgosto persegue-me

esta perturbante inquietação
esta eterna solidão
esta pesada herança do nada

continuo sem saber me defender
não sei me proteger

percorro passo a passo este minúsculo
espaço e não encontro sossego
nem com quatro capsulas consigo
dormir

a inquietação é grande e o sofrimento
é maior ainda

o que me perturba mais é que
não farei nada e vou esperar
que se repita sempre, sempre

sou vitima de mim mesmo
sou refém da minha distância
sou culpado por ter medo de
conhecer, explorar e arriscar

cada pessoa é um desafio
inquieta-me saber o resultado
tenho receio de falhar e no
fundo isso é banal

se eu pudesse ser normal
se eu conseguisse dar-me
a mim sem ter de me entregar

gostava de ser normal como
os outros, simplesmente feliz
não ver a complexidade onde
existe felicidade

Duvida Persistente


Conseguirá o Poeta escrever tão intensamente
feliz e infeliz?

Não será a tristeza maior emoção que a
felicidade?

Não será o bem mais fraco que o mal?

Será tudo isso diferente realmente, ou
tudo é uma imensa confusão?

As emoções transbordam, e eu estou feliz
agora, mas sinto a necessidade, a falta
da tristeza.

Não sinto angustia para encher folhas
de melancolia.

Porém, vou continuar a viver esse raro
momento de serenidade.

Dia da Mulher no Brasil


(Uma breve nota para todas as mulheres de acção que não gostam de ser amadas no dia da Mulher: bem sei que este é um dia de luta da Mulher, mas eu não sou mulher, sou poeta e com os meus olhos turvos, escrevo amor enquanto vocês gritam justiça).

Este ano é especial, estou no Brasil!

No Brasil, tal como em Portugal, as mulheres sorriem, sorriso este que esconde problemas, angústias e medos.

No Brasil, tal como em Portugal, elas são filhas, mulheres e mães, e desejam também ser felizes, ser amadas e respeitadas.

No Brasil, tal como em Portugal, as mulheres lutam, carregam os mesmos fardos e sonham com os mesmos direitos.

No Brasil, tal como em Portugal, elas são colegas e amigas, e trabalham de igual para igual, e transmitem a mesma simpatia.

No Brasil, tal como em Portugal, as mães sofrem pelos seus filhos, mas em Portugal existe uma mãe muito especial que pensa em mim, a minha.

No Brasil, tal como em Portugal, as meninas brincam e cantam, mas em Portugal está uma menina linda que me faz chorar de saudade, a minha filha.

No Brasil, tal como em Portugal, as mulheres são bonitas, sedutoras e maravilhosas, mas é em Portugal que tu estás meu amor.

No Brasil, tal como em Portugal, continuarei a evocar neste dia, a estima diária que tenho pelas mulheres.

“Gentileza, gera gentileza”1

 1Profeta Gentileza

Zé,

 
Aquele que sonhou

mas a noite levou

 
Aquela esperança

que temos na lembrança

 
Do teu sorriso amigo

que trago comigo

 
Por isso grito para o céu

ninguém te esqueceu



Nota: Adoro este poema dedicado à memória do Zé que, partiu cedo demais.

Valor da Amizade


 A amizade não se mede pelo seu ganho ou proveito,
Mede-se pelos impulsos que causam no coração,
sempre que sinto a dor da saudade.

 Mede-se pela ansiedade do reencontro

Frases soltas

 
Quem sou eu?
Porque só me contento com o belo

 
Porque não suporto a mediocridade, o feio, o sujo.
Apenas aprecio o agradável e não disfarço a minha angustia perante a vulgaridade.
O meu desejo de simplicidade torna-se algo extremamente elitista
Estarei errado?
A minha busca pela perfeição deixa-me só...
 
 
Que enorme conhecimento tem aquele que aceita toda a complexidade da vida com a mais pura simplicidade.

 
Devemos seguir o nosso caminho, de modo a alcançar a felicidade.
Não sou ambicioso, mas desejo ardentemente encontrar o meu rumo.
Que sinal me fará descobrir que sonho seguir?

 
Invejo aqueles a quem um dom se revelou.
A nós, que provavelmente tal sorte nunca chegará,
resta-nos palmear o caminho que de certo não se manifestará.

 
Batidos pelo cansaço, nos resignaremos ao simples quotidiano, ou levados de gana e emoção atingiremos o objectivo que é o sonho prometido.

 
Porque não tenho respostas a todas as minhas interrogações?
E os meus porquê não se transformam em porque?
E as minhas dúvidas não se dissolvem com palavras?


Desejo aquilo que nunca terei
Paz para encontrar respostas
serenidade para as entender
E discernimento para as escolher

 
Dedico este Poema à Mulher.

O sonho é a memória que quero preservar do romantismo com que me entrego, por quem o meu coração bate e o meu corpo existe.
Sonhei contigo. Sonhei que te fazia as mais puras carícias. E assim, o tempo e o espaço fizeram de mim o teu melhor amante, e de ti a mais bela flor.
Sim, e porque o sonho era meu, percorremos os nossos corpos sem memória na mais profunda comunhão.
E como do meu sonho afastei todos os sentimentos mesquinhos que enchem frequentemente a mente humana, o resultado foi o amor. Amor no expoente máximo, como só a mãe natureza nos pode oferecer.
E do meu sonho recordo agora apenas, que tu e eu juntos, éramos lindos.

Naquela noite fugi, fugi o mais rapidamente que pude, mantendo claro uma postura de quem esconde todo o desconforto de um encontro mal sucedido. Jantamos e aproveitei a pausa que se eternizava para encontrar um pretexto de sair.

Marquei com ele no chat, parecia interessante, foto de homem elegante, quarentão, ar bem-sucedido, mas a sua presença não coincidia em nada com o que aparentava por trás do teclado. Será que era ele mesmo?

Marquei com ele perto de casa, para estar mais livre de regressar, nestes primeiros encontros, nós as mulheres nos resguardamos sempre. Eles também se resguardam do seu jeito, mas eles acreditam estar protegidos daquela capa de super-heróis que os acompanham desde os 10 anos.

Quando cheguei, ele já la estava, bem vestido, cheiroso até, mas impaciente e eu nem tinha passado dos meus habituais 20 minutos de atraso. Apresentei-me e ele fez o mesmo, esperava um elogio que não chegou. Este fato me caiu mal, não fazia parte do começo que tinha idealizado para este encontro, nunca me sucedera efetivamente tamanha alienação ao meu charme. Na verdade, sempre pensamos que poderá rolar qualquer coisa de um primeiro encontro, embora mantenhamos uma atitude de reserva, aquela reserva que é desejada a uma moça de boa família. Tudo ficção.

 Mas logo de início, esse desconforto foi crescendo dentro de mim, a minha insegurança viajou por dentro de mim, enquanto ele tecia o seu monólogo egocêntrico. Não fiz caso do que falava, ele também não fazia caso da minha indiferença. Algo estranho, realmente.

Peguei no celular e fazendo dele o meu espelho tentei perceber se a minha maquilhagem estaria borrada, ou se os meus dentes teriam qualquer coisa. O cabelo também estava arrumado, o decote mantinha a aparência que tanto agradava em outros encontros. Pedimos vinho, mas nem assim o meu pretendente se soltou e o jantar terminou com um beijo e um cordial até breve. Fugi dali, entrei em casa, tomei um banho, deitei-me na cama e desabafei…

Nota do Autor: tratou-se de um ensaio em que respondi a um desafio de escrever ficção e criar um personagem feminino. Vou continuar certamente esta história.

UM DIA FELIZ


 Quando eles se perderam ninguém estranhou, eu também não, pois eu mesmo ando perdido, perdido em mim mesmo.

É frequente vaguear pelas ruas da cidade e pensar que estou junto de ti, falo contigo, rio e a caminhada corre naturalmente, as pessoas passam e nem as vejo, pois é contigo que converso e distraído, nem vejo que num instante percorremos toda uma imensa distância.

Cansada, tu pedes-me para parar, sentamo-nos no parque, compro uma água, tu bebes um golo e eu admiro os teus lábios sorvendo-a calmamente e isso me refresca também. Está calor, imenso calor, tens uma blusa leve e eu admiro a tua pele que sei macia. As árvores abrigam-nos do sol tórrido e assim nos deixamos ficar sem pressa.

Pego no livro e leio umas linhas, tu repousas as tuas pernas ao meu colo, gosto da tua tranquilidade, tu distraíste com o fluxo das pessoas que passam e observas, e sabes que eu te observo. A minha leitura não para o nosso diálogo, eu leio para ti e tu falas para mim.

Tenho fome, seguimos então o nosso caminho rumo ao acaso, tudo é incerto quando estamos perdidos, seguimos os instintos e os sentidos, farejamos por um cheiro que nos agrade. Sentamo-nos numa mesa, tudo permanece eternamente azul, o tempo parou, os instantes parecem percorrer ilimitadamente a minha memória. O gelado que partilhamos dissolve-se gostosamente nas nossas bocas. As pessoas estão imóveis saboreando os seus gelados, o momento é mágico pois ninguém pretende perturbar o silêncio desfrutado nessa magia.

Peço um café, tu preferes beber um pouco do meu. Olho para ti, tu olhas para mim, adivinhamos desejos, sorrimos e eu te beijo. Partimos novamente, onde iremos parar agora. Tu lembras-te do filme de que te falaram que é muito bom, parece-me uma boa ideia terminar esta tarde deliciosa com um bom filme.

No cinema, está frio, a tua pele parece arrepiada, chegas-te para mim e eu sinto o teu cheiro, vemos o filme e eu perco-me novamente nas minhas memórias e tu nas tuas. O escuro cria sempre introspeção. O filme afinal não é o que esperávamos, mas o momento, disfrutamos para nos perdermos novamente no vazio. No vazio da felicidade sem remorsos de poder ser feliz sem ter de entender porquê.

Saímos e já é noite, estás cansada, eu abraço-te e seguimos para casa, no carro tu repousas enquanto eu te guio pelas luzes dessa linda cidade que tanto adoro. Entro em casa preso à minha solidão, mas feliz por teres estado comigo neste dia em que só, me perdi na tua companhia e o tempo apaziguou a minha agonia.

 

Saudade


Sinto saudade de sentir saudades
Sinto saudade de sentir apenas

Sinto-me perdido no vazio do pensamento
Sinto-me perdido dos meus sentimentos

Vagueio por entre os outros para me achar
Vagueio por entre mim para me encontrar

Sei que no meu reflexo eu apareço
mas o reflexo é ele e não eu!

Procurarei reencontrar-me, voltar a ser eu
e voltar a sentir saudade de viver
Brasília tem a magia de um sonho
e a beleza de uma mulher.

Quero pegar nas suas asas e pousar
sobre o seu corpo, para assim
manter-me eternamente.

Brasília tem qualquer coisa de
interplanetar, não se assemelha
às cidades desta terra.

Nela, existem também pessoas
especiais, que escondem as suas asas.

Eu tive o privilégio de conhecer uma,
mas foi o bastante para me sentir
protegido.

Brasil


Conheço um país que é gigante,
cabe lá dentro um continente.

Conheço um país onde toda a gente
é diferente, cada família é um
pedaço de todo o lado.

Conheço um país que fala a mesma
língua, mas que não me entende.

Conheço um país que é impossível
atravessar num só dia, é impossível
conhecer numa só vida.

Conheço um país de gente que me
quer bem, acho que este país também
é o meu.

O Vendedor de Sonhos

Hoje, tal como ontem e outras tantas noites, não durmo.
Triste deve estar o Vendedor de Sonhos que, lá fora me aguarda ansiosamente.
Infelizmente não posso e não me apetece sequer sonhar, tal é o tormento de ter de voltar a acordar neste mesmo pesadelo.
Longe vão os tempos em que os teus sonhos me embalavam a noite e me coloriam os dias.
Bem sabes como é doloroso viver um instante da vida sem sonhar.
Havias de poder tornar os teus sonhos eternos e a realidade efémera para que eu pudesse voltar a chamar-te.

 

Ansiando pela tua chegada

 

Os dias passam, a alegria aumenta.

As semanas passam e a hora não chega.

Cresce bebé que em breve te veremos.

 

Tu já nos escutas, nós já te sentimos.

Não te sabemos Maria ou Martim,

mas que importa, não tarda te teremos.

 

Que momento esperado, tantas coisas para te dizer,

Tantos sonhos para te ver viver.

 

A alegria aumenta, e a emoção transborda à

medida da tua própria evolução.

Tu és magnificamente incrível.

 

Meu amor vem, vem com todo o tempo do mundo

que estamos aqui para te receber.

Tempo

 

Dimensão intemporal de memórias,


testemunha de gerações,

confidente de emoções.

 

O tempo presente surge no

silêncio do rápido desencadear

do quotidiano.

 

O passado é tempo morto,

que já não existe.

 

No imprevisível tempo futuro

afundam-se as nossas ilimitadas esperanças,

sonhos de imagináveis concretizações.

 

O futuro é o tempo de mudança

e tudo é real  como a nossa vontade.

Na busca de si próprio


Na verdade a viagem transformara-se numa viagem dentro dele próprio, Tiago sentiu-se sobressaltado por este sentimento e ansia de se reencontrar com ele mesmo.

A rotina dos dias, calma acomodação adormecera nele a sua constante inquietação.

Porém só, naquele território e distante da sua zona de conforto, entregue unicamente a si, impeliu-o na necessidade de se relacionar consigo mesmo, como se de um estranho se tratasse.

O tempo havia passado e esse reencontro foi mais suave que das outras vezes. O momento era outro e bastantes contradições se haviam então esfumado pela própria razão da sua inexistência.

Tiago procurava dentro de si, dentro do infinito de si mesmo, procurava a sua própria existência, bem como a razão de existir. Tentava entender e compreender as suas emoções.

O reflexo que via dele no seu relacionamento com os outros habitantes nem sempre coincidia com a conquista que julgava crescer do conhecimento de si mesmo.

Por isso, interpelava uma infinidade de pessoas com as quais procurava espelhar o seu desassossego, a sua busca, a eterna busca por algo que nem conhecia.

Pretendia encontrar no diálogo consigo mesmo, através do seu relacionamento social, as respostas que não encontrava dentro de si.

Este inevitável contato humano, razão de uma necessidade de pura sobrevivência, de procura de afeto, criara nele uma crescente confiança na sua capacidade de se relacionar para além do seu habitat familiar, onde se sentia naturalmente protegido.

Este efeito era formidavelmente agradável para ele, pois sentia, o que nunca houvera sentido até então. Sentia que- os medos e receios de anos eram infundados. Sentia que havia apreço pela sua presença, admiração pelas suas ideias e agrado pela sua companhia.

Porém, quando só, a sua angústia mantinha-se acesa, como acesa estava a imagem totalmente desfocada da ideia que ele tinha em si mesmo.

O seu reflexo nos outros não o deixava tranquilo pois sabia que não se libertava a modo de permitir uma imagem real dele mesmo. Procurava por insegurança que o reflexo dele nunca combinasse com a ideia sempre negativa que tinha de si mesmo.

Deixava esse lado obscuro selado dentro do seu coração.

As emoções, ele as conhecia bem. Conseguia viver um arco iris de felicidade dentro de um mar tenebroso e escuro de angústia e tristeza.

Estes limites esgotavam-no, e exausto continuava o caminho na busca de si próprio.

Qui suis-je si non la queue d’un poisson perdu

donc je ne connais pas les yeux ni même ses mesures.

Vers oú je me dirige, quel destin doit-je suivre?

L’odeur du sang, oú le courant d’eau chaude qui passe à babord.

C’est fatigant ça de choisir l’avenir.

Poema

 

Poema é dor, amor e ardor.

 

Por vezes é me difícil escrever

tão vertiginosamente que é a torrente de palavras que me enche a boca,

entope os ouvidos,

e me comanda os dedos com que as exprimo.

 

Poema é um mar de palavras soltas, unidas pela melodia.

 

Com a dor escrevo a minha revolução,

encho páginas de indignação.

Com o amor reconheço o belo e o sereno,

a paz e a liberdade.
 

O ardor é o que sinto por ter só dor e não alcançar o amor,

é ansiar liberdade e apenas gritar revolução,

é fosso que separa o isolamento da união,

é terra de ninguém,

é um vazio maior que a dor.

 

Procuro nos momentos de dor fortalecer-me para o amor,

conseguirei eu ter amor sem dor?

Apresentação

Faz anos que escrevo textos que adoro partilhar individualmente com todos os que gostam de uma boa conversa e manifestam curiosidade nas minhas palavras.

No outro dia em conversa altamente cibernética, noturna de vênus, uma extraterreste fantástica com quem conversava, deu-me esta ideia de criar um blog para divulgar os meus textos.

Nunca tinha pensado nisso de partilhar os meus textos numa dimensão bastante mais global, adorei a ideia. O entusiasmo invadiu o meu espirito e com ajuda dos tutorias, cá estou eu a crescer, viva a vida e a sua capacidade eterna de se regenerar e de nos surpreender.

O que pretendo deste blog? Ainda nem sei bem, será certamente dinâmico, até que se estinga! Nesta fase, apenas pretendo divulgar textos. Em falsa modéstia afirmo que vou crescer, pois o meu sonho depende unicamente de mim.

"Les jeux sont faits, rien ne va plus" ... Vou então iniciar esta aventura!!! Conto com a vossa ajuda, sejam bons críticos, não prometo ser simpático, mas tentarei ser cordial.